Num
artigo recente expliquei que parte da minha oposição à adopção e co-adopção
por homossexuais radica na preocupação pelos efeitos que isso poderá vir a ter
sobre a liberdade religiosa, o respeito pela liberdade de consciência de
cristãos e outros que se oponham a estes casos de engenharia social e um
gradual afastamento destas vozes da praça pública.
Alguns comentadores criticaram-me, dizendo que estava a
falar de “potenciais possíveis marginalizações e restrições de liberdade de
expressão e pensamento que poderão vir a acontecer num futuro mítico, mas que nunca aconteceram nem noutros
países nem em temas semelhantes em Portugal”.
Este artigo destina-se a comprovar que esses casos têm, de
facto, acontecido noutros países, daí a minha preocupação ser perfeitamente
fundada. Neste texto não apresento um único caso que não esteja devidamente
fundado através de links para artigos comprovativos da sua veracidade.
Agências católicas fechadas
A adopção por homossexuais foi legalizada no Reino Unido em
2002. Nessa altura operavam em Inglaterra, País de Gales e Escócia pelo menos
12 agências de adopção ligadas à Igreja Católica.
Em 2007 foi declarado que as agências católicas
discriminavam contra homossexuais ao dar exclusividade ou preferência a casais
legalmente casados. As agências contestaram mas em vão. Nesta altura não
existia ainda o “casamento” entre homossexuais.
Das 12 agências católicas de adopção que existiam nessa
altura, actualmente apenas duas ainda existem. A agência Catholic Care,
de Leeds, continua a combater a legislação em tribunal, até agora perdeu todos
os recursos. A
St. Margaret's Children and Family Care Society, na Escócia, está na mesma
situação.
Todas
as outras agências católicas ou fecharam portas, ou dissociaram-se da Igreja
para poderem continuar a trabalhar no ramo da adopção, comprovando que o
Cristianismo não é bem-vindo nesta área de acção social, apesar de ter sido
pioneiro no cuidado pelos órfãos e crianças necessitadas. É perfeitamente
expectável que dentro de poucos anos a Igreja tenha sido completamente banida
deste sector, em nome da igualdade.
Em 2010 um casal britânico, com longos anos de experiência
como casal de acolhimento para crianças necessitadas, foi informado de que não
poderiam continuar a prestar esse serviço. Os Owen, que são cristãos, tinham
dito a um funcionário da segurança social que os entrevistou que não poderiam
dizer a uma criança que o estilo de vida homossexual é aceitável. Note-se que
não disseram que fariam questão de dizer às crianças o que achavam da
homossexualidade ou da sua prática, mas simplesmente que, se questionados sobre
a aceitabilidade desse estilo de vida (e não orientação), não poderiam
concordar.
Os Owen, que em anos de
acolher crianças nunca tinham tido qualquer problema, recorreram mas perderam.
Pode-se concluir, portanto, que no Reino Unido quem defende uma visão sobre a
sexualidade humana em linha com a do Cristianismo não é considerada aceitável
para acolher crianças necessitadas. Esta é uma informação particularmente
interessante à luz das afirmações dos defensores da adopção por parte de
homossexuais é crucial para poder tirar mais crianças de instituições. Note-se,
ainda, que os Owen não são católicos, mas protestantes.
Ainda no Reino Unido há vários outros casos em que os “direitos”
dos homossexuais triunfaram sobre o direito à liberdade de consciência de
outros cidadãos. Num desses casos a funcionária do registo Lillian Ladelle foi
despedida por dizer que se recusaria a oficiar em uniões de facto de
homossexuais. Já Gary McFarlane, funcionário público especializado em aconselhamento
sexual, disse que preferia não prestar esse aconselhamento a homossexuais,
tendo sido também despedido. Tanto
Ladelle como McFarlane recorreram até ao Tribunal Europeu dos Direitos do
Homem, que decidiu contra eles.
Temos também o caso do casal Bull, donos de um turismo de
habitação, que em 2008 se recusaram a alugar um quarto com cama de casal a um
par de homossexuais, baseando a sua decisão nas suas convicções religiosas. Levados a tribunal
perderam e foram obrigados a pagar uma indemnização de 3,600 euros. Note-se
que num turismo de habitação estamos a falar de um negócio comercial, sim, mas
que é ao mesmo tempo a casa do casal que o gere, pelo que não se pode comparar
com um hotel, por exemplo.
Por fim, um caso perturbador que teve lugar na Escócia e que
mostra até que ponto as autoridades poderão estar dispostas a ir para mostrar a
sua tolerância, que todavia tem quase sempre só um sentido.
Uma mulher de 26 anos, toxicodependente em recuperação,
perdeu os seus dois filhos que foram colocados à guarda dos seus pais, avós das
crianças, pela segurança social. Contudo, e apesar de os avós terem 46 e 59
anos, a segurança social veio mais tarde a retirar-lhes a guarda das crianças e
deu-as em adopção a um “casal” homossexual.
A
mãe protestou dizendo que queria pelo menos que os seus filhos ficassem com uma
mãe e um pai, mas de nada lhe valeu. Os avós tentaram travar a adopção em
tribunal, mas rapidamente perceberam que o processo judicial os levaria à
falência muito antes de chegar ao fim, pelo que se viram forçados a desistir.Há ainda outro caso interessante que se passou em Londres em 2012.
Depois de um grupo activista pelos direitos dos homossexuais ter feito
uma campanha de publicidade nos autocarros de Londres a dizer "Some
people are gay. Get over it" [Algumas pessoas são homossexuais.
Habitua-te], uma organização cristã organizou uma contra-campanha com
anúncios a dizer: "Not Gay! Ex-Gay, Post-Gay and Proud. Get over it!"
[Não gay! Ex-gay, Pós-Gay e Orgulhosos. Habitua-te].
A questão, a meu ver, não é de saber se o anúncio é interessante ou não,
ou se de facto é possível ser "ex, ou pós-gay". O que é interessante é
que qualquer médium de meia-tigela pode publicitar os seus serviços,
qualquer terapia new age pode publicitar o seu serviço, uma associação
de homossexuais pode meter um cartaz nos transportes públicos a dizer
"get over it", mas uma associação cristã já não pode.
França e Suécia
Em França o “casamento” entre homossexuais foi aprovado em
2013, no meio de grandes protestos e manifestações. França apresenta um caso
interessante, uma vez que lá os presidentes de câmara podem oficiar nos
casamentos.
Logo surgiram casos de autarcas que se recusaram a cumprir a
lei, mas neste caso também não existe qualquer possibilidade de objecção de
consciência, pelo que os casos vão parar aos tribunais e podem, eventualmente,
levar a penas efectivas para as pessoas em causa.
Os presidentes de câmara que se opõem a esta legislação estimam representar
cerca de 15 mil autarcas cuja liberdade de consciência está a ser violada
pelo Estado e já existem pelo menos alguns casos de processos contra
objectores.
Há ainda outros casos preocupantes na Europa. Na Suécia é
conhecida a história de um pastor
pentecostal que foi preso e condenado em primeira instância por ter proferido,
dentro da sua própria igreja, uma homilia em que disse que a prática homossexual
é pecado. Ake Green acabou por ilibado pelo supremo tribunal. Mas o
tribunal não concluiu que Green não tenha violado a lei, simplesmente
considerou que a condenação que Green merecia à luz da lei sueca, não
resistiria a um recurso ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, pelo que o
deixou sair em liberdade.
Na Escócia, mais recentemente, aconteceu um caso semelhante,
com
um pastor evangélico a ser detido depois de ter criticado a homossexualidade
numa pregação de rua.
Na América é mais
bolos
Nos Estados Unidos o choque entre “direitos” dos
homossexuais e o direito à liberdade de consciência também tem sido duro.
Vários Estados permitem o “casamento” gay e a adopção por pares de homossexuais.
Tal como no Reino Unido, pelo
menos três agências de adopção católicas foram forçadas a fechar as portas por
se recusarem a colocar crianças com homossexuais. Uma quarta, em Washington
D.C., foi informada pelas autoridades que deixaria de poder receber
financiamento enquanto se recusar a aceitar colocar crianças com homossexuais.
Alguns casos nos Estados Unidos são perfeitamente caricatos.
No Estado do Colorado um “casal” homossexual processou Jack Phillips, o dono da Masterpiece
Cakeshop, por este se ter recusado a fazer-lhes um bolo de casamento. O
juiz não obrigou ao pagamento de qualquer indemnização mas disse que no futuro
a empresa não poderia recusar-se casos desses. O dono já disse que preferia
fechar a empresa do que violar a sua consciência.
No Estado de Oregon, onde o casamento entre homossexuais não é sequer
legal, outra loja de bolos teve de mudar de local depois de ter recusado
fazer um bolo de casamento para duas lésbicas. A Sweet Cakes by Melissa
foi condenada por uma comissão do trabalho por descriminação, foi
inundada de correio e telefonemas agressivos e acabou por ter de fechar
portas e mudar de localização.
Um caso semelhante aconteceu no Novo México, mas
com uma fotógrafa que se recusou, por objecção de consciência, a fotografar
uma cerimónia de união de facto homossexual. Elane Huguenin foi condenada e
obrigada a pagar uma indemnização de 7 mil dólares. Ambos os casos devem acabar
por chegar ao Supremo Tribunal, que tem um registo impressionante de defender a
liberdade religiosa, mas independentemente do veredicto final, mostram uma tendência
preocupante.
Tweets polémicos
A censura do politicamente correcto não se fica pelos EUA. Em Maio de 2011 um comentador canadiano de hóquei no gelo foi despedido depois de ter publicado um tweet da sua conta pessoal em que criticava o "casamento" entre pessoas do mesmo sexo.
Craig James foi contratado como comentador desportivo pela ESPN, mas
quando se soube que tinha dito, numa campanha eleitoral para o senado,
vários meses antes, que não concordava com o "casamento" entre pessoas
do mesmo sexo e que acreditava que não se nasce homossexual, foi despedido.
Frank Turek, formador e autor de palestras motivacionais e de
teambuilding colaborava regularmente com a Bank of America e com a Cisco
Corporation. Mas
quando as empresas souberam que ele tinha escrito um livro em que
explicava porque é que o "casamento" homossexual era uma coisa má para a
sociedade, foi despedido. Mais tarde, contudo, ambas as empresas
voltaram atrás e confirmaram que não iriam despedir funcionários por
defenderem posições conservadoras.
Quando Larry Grard, jornalista há 39 anos e há 18 com o Morning Sentinel
recebeu um e-mail de um grupo pró-homossexual a acusar todos os que se
opunham ao "casamento" entre pessoas do mesmo sexo como sendo movidos
por ódio, respondeu da sua conta pessoal, afirmando que considerava o
termo ofensivo e que quem estava a ser movido por ódio eram os
promotores da campanha. O
activista que recebeu o seu e-mail procurou o seu nome no Google e
quando percebeu que era jornalista queixou-se ao editor. Grard foi
chamado e sumariamente despedido.
Há ainda uma outra frente nos EUA que vai dar certamente
muito que falar. Com a legalização do “casamento” homossexual em vários estados
tem havido uns quantos casos de professores e funcionários despedidos das
escolas, universidades e outras instituições religiosas por se terem “casado”
com os seus respectivos parceiros homossexuais.
À primeira vista isto poderia parecer um caso contrário aos outros
apresentados aqui, em que o discriminado é o homossexual, contudo, existe uma
diferença muito importante. É que enquanto nestes casos os funcionários
trabalham para uma instituição privada, religiosa, com uma posição bem
conhecida sobre este assunto, nos outros casos trata-se de o Estado a tomar
partido contra os cristãos.
Ora o Estado tem uma obrigação de neutralidade que
a Igreja não tem e, mais, esses funcionários, pelo menos nos EUA, costumam
assinar um documento em que se comprometem a não violar os princípios da instituição
em que trabalham. Um caso verdadeiramente semelhante seria uma associação de
promoção dos direitos dos homossexuais despedir um funcionário que se opõe,
aberta e publicamente, aos seus princípios.
A questão aqui não é tanto legal, uma vez que poucos
contestam o direito das instituições, mas
sim da pressão da opinião pública que se intensifica contra elas, como
demonstra este artigo, que enumera vários desses casos.
Num outro caso, surgido já depois da publicação inicial deste texto, um
homem recebeu uma oferta de emprego para ser o responsável pela
alimentação numa escola católica. Mas a oferta foi retirada quando se
soube que ele é "casado" com outro homem. Matthew Barrett diz que não
tinha assinado qualquer documento no sentido de não violar os princípios
da Igreja. Contudo, tendo sido informado que devia respeitar a doutrina católica pensou tratar-se de "participar nas orações". Barrett, com o apoio de uma associação gay, vai processar a escola.
Agradeço quaisquer outros comentários e eventuais links para
histórias que me tenham escapado.
Filipe d’Avillez
Artigo actualizado a 10 de Fevereiro com as histórias de pessoas
despedidas por fazer comentários e tweets contra o "casamento" entre
pessoas do mesmo sexo.
Artigo actualizado a 3 de Fevereiro de 2014, com a notícia da "Sweet
Cakes by Melissa", no Oregon e da campanha nos autocarros de Londres.
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