Todas as pessoas que conheci dentro do mundo homossexual chegaram a um
ponto das suas vidas onde elas "saíram do armário" com uma história. E
não era um história qualquer, mas uma história pessoal de tragédia,
mágoa, solidão, luta interna e a eventual auto-afirmação. Algumas
poucas tornaram-se adeptas em recontar a história, lembrando-se de
quase tudo em relação a um intimidador ["bully"] do recreio infantil,
das emoções que sentiram quando, depois de todos terem sido escolhidos,
tu passas a ser a última pessoa de pé e ninguém te querer na equipa
deles, ou da forma como o teu pai se zangou contigo porque tu estas a
dançar de forma inocente como - nas palavras dele - um maricas.
Mais frequentemente, estas narrativas centram-se em redor do pai, que
ou estava ausente, ou era desligado, ou era demasiado crítico, violento
ou abusivo. Concomitantemente, havia também uma anormal relação de
proximidade com a mãe, especialmente aqueles cujas mães vinham
frequentemente a São Francisco para lhes visitar, nunca acompanhadas
pelos pais mas que mesmo assim falavam de forma suspeitosamente
positiva dos seus pais sem no entanto revelarem muitos detalhes.
Por essa altura, não pensei muito nisso porque eu tinha um bom número
de memórias do meu passado. Algumas destas histórias eram semelhantes
às histórias dos meus amigos, mas outras nem tanto, mas todos nós
tínhamos a determinação comum de seguir em frente, superando aquelas
dificuldades iniciais, vivendo segundo as nossas regras e tomando conta
dos nossos destinos. Só que nós não nos apercebemos que esta falsa
sensação de poder nos seria retirada para sempre através do desespero,
das doenças, e da morte.
Quando eu era um pequeno rapaz, eu não queria ser gay. Gay era o estranho alter-ego de Jack Tripper em “Three’s Company;” era o primo demasiadamente-feminino do filme “Zorro - The Gay Blade,”
e era o que os outros rapazes me chamavam quando eu deixava a bola cair
de forma interminável durante as aulas de Educação Física. Eu não
queria ser isso.
Mas quando as coisas estavam fora do meu controle - e quando eu não
sabia mais do que sabia na altura - uma rapariga mais velha
aproveitou-se de mim. Imediatamente fiquei assustado mas ao mesmo tempo
fiquei fascinado. Muito provavelmente no mesmo ano, quando tinha cerca
de 8 anos, fui exposto à pornografia. Aquelas mulheres estáticas das
revistas eram objectos de desejo e evitação. Basta eu olhar para elas
para ficar excitado, mas algo dentro de mim não gostava desse
sentimento.
Foi então, sendo já um rapaz circunspecto e tímido, que me tornei ainda
mais recluso. Ainda me lembro de passar quase um dia inteiro sem dizer
uma única palavra; eu tinha alguns poucos amigos, mas gradualmente
comecei a acreditar que eu era tolerado por parte de um grupo similar
de miúdos gordos e desajeitados hiper-activos. Quando eu me separava
deles, vulnerável e sozinho, ocasionalmente ouvia a palavra "fag" a ser gritada na minha direcção.
Na maior parte das vezes, as raparigas assustavam-me, mas quando atingi
a adolescência, por vezes senti-me mais à vontade junto delas do que
junto de rapazes. Isto acontecia porque entre a minha primeira e
aterradora experiência sexual e a puberdade, comecei a ficar cada vez
mais incerto em relação às mulheres: as modelos sem vida da Playboy
eram de modo franco do outro mundo no que toca à sua beleza, mas também
distantes e icónicas - quase atingido proporções divinas; elas eram de
alguma forma seres superiores.
O feminino em osso e carne quente era aterrador; tal como as imgens
pornográficas que ganhavam vida, elas eram controladoras e eu senti que
poderia desabar rumo a feminilidade - que seria devorado por ela. Por
outro lado, os rapazes ofereciam algo. Primeiro, eles não eram
mulheres, e eles eram mais familiares e menos ameaçadores.
Mas também eles se tornavam estranhos e de alguma forma distantes de
mim e da minha percepção de quem eu era visto que eles eram masculinos,
e isso era algo que eu admirava e precisava. Eu queria ser como eles,
mas não sabia como. Durante o caminho as coisas ficaram confusas e,
pensei eu, a masculinidade era algo que eles me poderiam dar, e eu
acreditei que isso só poderia ocorrer através do sexo homossexual.
Com o passar dos anos, comecei a acreditar que o homossexualismo ocorre
nos rapazes porque há um medo dos homens e uma adulação deles,
simbolizado pelo desejo de ser amado pelo pai ausente ou pai que o
rejeitou, mas também é medo das mulheres. Regressando para as as
histórias dos homens homossexuais, uma amigo meu, que morreu de
overdose de drogas, disse-me (alguns anos antes de morrer) que o seu
pai abusava dele repetidamente quando ele era criança, e a sua mãe
estava por perto, totalmente abstraída e a passando o seu tempo a orar.
Outro amigo meu, um homem que estava sempre a batalhar com o peso,
falou da mãe sufocadora que o sobre-alimentou como se ele fosse o
marido adulto que lhe abandonou (a ela e aos filhos). E [outro amigo
meu], um homossexual rebelde punker, que foi expulso de casa no dia em
que veio para casa com um mohawk e um anel no nariz, mas só depois de
passar anos a ser depreciativamente comparado o seu colegialmente
atlético irmão macho. Este último amigo meu morreu de SIDA.
Devido aos nossos panos-de-fundo igualmente difíceis, cada um de nós
chegou a um ponto de auto-aceitação homossexual com experiências
diferentes mas também espantosamente semelhantes de rejeição masculina
e a inevitável busca por afeição masculina. Todos os nossos pais
falharam das mais variadas maneiras, mas as nossas mães ou ficaram por
perto sem emoção, e observaram tudo, ou protegeram-nos demasiadamente,
e, consequentemente, transformaram-nos em rapazes perpétuos ou rapazes
temerosos duma assumida hegemonia feminina.
Portanto, como grupo. nós estávamos tão focados na nossa atracção pelo
mesmo sexo, numa tentativa de afirmar a nossa masculinidade, que nós
nunca a poderíamos dar a outro. Descobrir que, à medida que fui
envelhecendo e me tornei mais sexualmente agressivo e mais dominante
com os meus parceiros sexuais, ao colocar a minha personalidade
hyper-masculina, eu era elogiado pelos outros homens. Mas ao
sobrepujá-los sexualmente eu nada mais estava a fazer do que a tentar
provar o meu pervertido sentido de masculinidade perdida.
Os homens homossexuais, com a nossa masculinidade nunca realizada na
plenitude, instintivamente unimo-nos em bandos, quer seja a
submetermo-nos perante aqueles que nós entendemos que exibem qualidades
mais masculinas, ou a elevar as apostas e a tentar forçosamente provar
a nossa superioridade tomando outros homens.
Neste cíclo sem fim de sempre buscar atingir a nossa masculinidade,
acabando por perdê-la sempre, não há espaço para o feminino. De forma
geral, os homens homossexuais relacionam-se melhor com a mulher quando
ela está parcialmente masculinizada na forma de drag queen,
ou através da adoração de mulheres agressivas e altamente determinadas,
especialmente artistas facilmente caricaturadas - desde Joan Crawford
e Beyonce.
Segundo esta ordem de ideias, os homens homossexuais frequentemente têm
relacionamentos anormalmente próximos com mulheres, muitas vezes
mulheres da família, ao mesmo tempo que ficam totalmente indiferentes
aos homens da família. Numa recente Folsom Street Fair conheci um homem jovem, que só estava a usar um jock-strap e
que frequentava pela primeira vez, acompanhado pela mãe e pela irmã. No
entanto, isto não é anormal visto que as mulheres que têm homens
homossexuais na família ou no círculo de amizades, tratam os
homossexuais não como homens mas como amigas.
Semelhantemente, os homens homossexuais acham isto incrivelmente
confortável, tal como eu fiz quando era adolescente e frequentemente
andava perto das raparigas, porque estas mulheres tornam-se
não-ameaçadoras tal como quem imita as mulheres. Na escola secundária,
embora eu ainda não o tivesse aceite, todas as minhas amigas pensavam
que eu era homossexual.
Então, o homossexualismo dos homens torna-se num escudo para com o
feminino porque os homens homossexuais têm medo das mulheres; porque os
homens heterossexuais são capazes de dar a sua masculinidade às
mulheres e vice-versa, mas os homens homossexuais sabem que eles não
têm masculinidade para oferecer; porque a busca pela masculinidade é
sempre um trabalho em progresso; é o Santo Graal que nunca é atingido;
e, consequentemente, nunca dado.
No fim de tudo, tudo o que os homens homossexuais fazem e agarrarem-se
às suas histórias porque isto é tudo o que eles têm e é tudo o que lhes
define. Consequentemente, os homossexuais nunca se podem mudar para
fora deles mesmos, e eles não podem sair para fora do seu sexo visto
que tudo aponta para dentro deles, tentando acalmar a criança magoada
que se encontra lá escondida.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os 10 mandamentos do comentador responsável:
1. Não serás excessivamente longo.
2. Não dirás falso testemunho.
3. Não comentarás sem deixar o teu nome.
4. Não blasfemarás porque certamente o editor do blogue não terá por inocente quem blasfemar contra o seu Deus.
5. Não te desviarás do assunto.
6. Não responderás só com links.
7. Não usarás de linguagem profana e grosseira.
8. Não serás demasiado curioso.
9. Não alegarás o que não podes evidenciar.
10. Não escreverás só em maiúsculas.
.......
Os editores do blogue reservam para si o direito humano de remover comentários que não estejam de acordo com o propósito e a política do mesmo.