Provavelmente pode-se dizer que tornei-me heterossexual acidentalmente.
Nunca foi algo planeado de forma relevante; a terapia foi uma tentativa
de resolver os problemas que eu tinha nas relações e não uma tentativa de resolver a
minha identidade sexual. Eu nunca tive desejo de alterar a minha
sexualidade mas foi isso que aconteceu - e de facto, eu mudei tudo.
Havendo tido centenas de parceiros sexuais, eventualmente casei-me com
uma mulher e tive uma filha e isso mudou por completo a visão que eu
tinha da vida. Deixei de ser uma pessoa arrogante que falava alto,
tentando desesperadamente mascarar as profundas inseguranças que sentia
sempre que me encontrava dentro dum grupo, para um homem forte e
assertivo, amante de desportos e filmes de guerra. Com 46 anos, nunca
me senti melhor na minha pele.
Mas antes de entrar em detalhes em torno da minha conversão, voltemos ao princípio.
Eu soube que era homossexual quando tinha 10 ou 11 anos. O meu próprio
primo tinha-se assumido e eu apercebi-me que as minhas atracções eram
as mesmas. Com 10 ou 11 anos, os rapazes começam a interessar-se pelas
raparigas, mas eu só estava interessado nos rapazes. Eu claramente
fazia parte do grupo 6 da Escala de Kinsey - homem exclusivamente
homossexual sem qualquer tipo de desejos heterossexuais.
A minha adolescência foi um inferno. Pensei no suicídio com frequência,
e,para além de ter um
crescente problema com o álcool e a pornografia, ocasionalmente infligi dano fisico a mim mesmo. Assumi-me perante os
meus pais quando tinha 17 anos com a face coberta de lágrimas. Mas o
meu pai e a minha mãe foram espectaculares; eles disseram que sempre
souberam e afirmaram o seu amor incondicional por mim. Os meus colegas
de escola também me disseram que há já algum tempo que sabiam e
deram-me o seu apoio. O processo de me "assumir " não foi tortuoso ou
traumático.
Quando tinha 18 anos mudei-me para Londres proveniente do norte da
Inglaterra, e abracei por completo a minha identidade homossexual.
Tornei-me na primeira pessoa a viver abertamente como homossexual na
secção da universidade que frequentei, chegando até a estabelecer um
grupo lgbt para outros estudantes e falando de modo activo contra
aqueles que sugeriam que ser homossexual era, ser alguma forma, uma
escolha.
Nunca senti a necessidade de mudar. Nasci homosexual e isso era tudo o
que eu precisava de saber. Fim. Embora eu tivesse sido educado como
Cristão e tivesse frequentado o Movimento Cristão lgbt em Londres, eu
deletava-me no ambiente homossexual da capital e tinha um estilo de
vida muito promíscuo. De facto, calculo que eu tenha tido 200 parceiros sexuais.
Eventualmente, estabeleci-me numa relação duradoura com um namorado, um
ex-soldado e veterano das Falklands, e consideramos casar no
estrangeiro - ou pelo menos estabelecer uma união civil. Mas por volta
desta altura eu tomei a decisão de ter um relacionamento com Cristo, o
que me permitiu examinar mais profundamente a minha vida. Apercebi-me que havia assuntos por resolver dentro de mim, assuntos
esses que se centravam no comprimisso. Descobri que eu tinha um medo
enraizado de rejeição, era muito ansioso e usava as pessoas. Tinha um
medo inato dos homens - não medo da sua homofobia, mas o que realmente
importava: um abismo entre mim e os homens heterosexuais normais (os
assim chamados "Números Um" da Escala de Kinsey).
Como
forma de começar tudo de novo, terminei o relacionamento que tinha com
o meu parceiro de longa data e, sob sugestão dum amigo meu, comecei a
ter
terapia como forma de resolver os meus problemas com o compromisso. Não
havia nada de brutal ou lancinante àcerca da ajuda que recebi; as
histórias de horror que são faladas nos documentários em torno da
"conversão" homossexual-heterosexual não se aplicam aqui. O que
aconteceu foi terapia cognitiva (para colocar em causa as minhas
crenças e eliminar todo o tipo de viés), terapia comportamental (para
alterar as acções problemáticas treinadas através de anos de
consolidação), e EMDR (que usa movimentos oculares rápidos como forma
de
amortecer o poder das memórias traumática)s.
O meu terapêuta nunca se focou de modo exclusivo no facto de eu ter
atracção por homens, mas o facto de eu "ser homossexual" fazia parte do
nosso diálogo (se assim não fosse, eu estaria a deixar de lado uma
parte da minha vida). A maior parte da minha caminhada centrava-se em
eu ser capaz de perdoar as pessoas que eu precisava de perdoar, e
entender que em fases da minha vida, eu havia erigido muros contra os
outros (especialmente contra os meus pais e os meus irmãos).
Eventualmente eu apercebi-me que enquanto era rapaz, eu havia falhado
em interagir de modo importante com outros homens. Eu havia olhado para
mim como alguém rejeitado pelos homens, mesmo quando era rapaz, e tinha
feito um voto de nunca confiar de modo profundo em homem algum. As
pessoas tentaram-me alcançar mas eu tratei-as com desprezo, incluindo
o meu pai e os meus dois irmãos mais velhos. Não é de admirar portanto
que durante a minha adolescência os homens se tenham tornado num
mistério para mim, precisamente quando eu os comecei a desejar e a
alimentar o meu desejo através da pornografia.
Também me apercebi que me havia lançado por completo no mundo feminino sem qualquer contra-balanço masculino, mas eu desprezava as mulheres por terem a habilidade natural de seduzir todos os aspectos dos homens heterossexuais, algo que eu não conseguia. Descobri que o meu lugar não era no meio das mulheres.
Muitas das minhas crenças cardinais foram colocadas em causa - o meu
aspecto, o meu corpo, a minha forma de andar - e o meu terapêuta
desafiou-me a observar onde é que eu não era como os outros homens, e
em que partes eu era. O terapêuta começou a tratar de coisas tais como
a minha voz e a minha maneira de andar - ele estava a dar-me
autorização para pensar duma forma diferente, e fazer as coisas duma
maneira diferente.
Aceitação.
Os meus receios e as minhas ansiedades enventualmente diminuiram e eu
comecei a sentir-me mais aceite junto dos homens e das mulheres. Passei
de alguém que rejeitava por completo a identidade masculina para alguém
que a abraçava; a minha postura mudou, comecei a andar duma forma mais
heterossexual e perdi o meu jeito de andar amaneirado. A minha voz
ganhou um novo tipo de ressonância de tal modo que as pessoas passaram
a comentar isso com regularidade.
Comecei a ver que se calhar, se calhar, eu nunca havia sido
verdadeiramente homossexual e que escondido dentro de mim, desejoso de
ser liberto e solto, havia um homem tão real e tão nobre como os homens
que eu admirava, reverenciava e desejava.
O contacto físico com as mulheres, até tocar no seu cabelo, tornou-se
mais agradável. Comecei a gostar de ser homem e a gostar da companhia
das mulheres, mas isso não quer dizer que em me sentia atraído a todas
as mulheres que eu encontrava (afinal, eu já não era um adolescente).
Mas isto foi um processo gradual que eventualmente levou aos encontros
românticos e aos relacionamentos.
Actualmente encontro-me casado com a mesma mulher há 8 anos com quem
tenho uma filha de 5 anos. Adoro a arte e o teatro, mas gosto de
desportos colectivos de uma forma que me assustava quando era uma
criança. Um dos meus filmes favoritos é o filme "Saving Private Ryan" porque centra-se na irmandade e na profunda amizade masculina, algo que, no passado, eu nunca gostei-
-
Será que hoje em dia sou exclusivamente heterossexual? A maior parte do
tempo, sim. Mas para a maior parte das pessoas existem períodos onde a
sexualidade pode ser bem fluida. Por vezes isto também se aplica a mim.
Não sinto saudades do estilo de vida homossexual que deixei para trás -
quando visitei o meu ex-namorado, cinco anos depois da terapia,
apercebi-me das desvantagens deste estilo de vida. A sua voz havia-se
tornado debilitada e fraca e ele havia contraído o HIV.
Sei mais do que nunca que, a longo prazo, a minha decisão de considerar
terapia, e mais tarde a terapia que se dedica a reparar orientação
sexual mal-formada, salvou a minha vida. Salvou também bastante
dinheiro aos contribuintes visto hoje acredito que se tivesse ficado no
homossexualismo eu acabaria por considerar, e invariavelmente a pedir,
uma operação de redesignação sexual à custa do dinheiro público.
Mas as mudanças na minha vida (e na vida do meu ex-namorado) não me
motivam a querer pregar a alguém ou a tentar converter os outros. A
terapia pode ser perigosa e não há motivo algum que justifique que
alguém se sinta forçado a "converter". Mas hoje acredito que ninguém nasce homossexual, e que qualquer pessoa pode desenvolver o tipo de identidade oculta que eu encontrei.