quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Relíquias

Texto originalmente publicado no blogue Paio Com Ervilhas, a 28 de Junho de 2010.


Este fim-de-semana parece que uns indivíduos tiveram o apoio do município de Lisboa para exibirem em pleno Terreiro do Paço o famoso orgulho pelos desejos e práticas sexuais a que livremente aderem, algo que, em princípio, só lhes diria respeito a eles. Lamentavelmente não tivemos nenhuma choradeira dos laico-republicanos ateus, como sabemos sempre defensores dos bons princípios de neutralidade estatal e boa utilização dos dinheiros públicos. Ontem até deve ter dado para alguns se juntarem à festa.
Quem também não faltou foram as crianças, no simpático espaço a que puseram o nome arraialito. Achei muito graça quando vi, na mesma reportagem televisiva, uns meninos a rabiscarem uns desenhos num espaço que parecia uma creche ao ar livre e, mais à frente, um marmanjo de tronco nu decorado com tiras de cabedal e argolas de metal, a servir cervejas num barraco onde se podia ler "fetiche" e "sado-masoquismo". Aí está um bom ambiente para as crianças explorarem as suas capacidades cognitivo-artísticas, a partir dessas temáticas, infelizmente, nem sempre presentes no dia-a-dia infanto-juvenil.
Não sei porquê, mas há qualquer coisa no ar que me lembra aquele livro do Eça, "A Relíquia"...
Nestes tempos de forte moralismo sexual, as titis são ateias e esquerdistas. A original sofria só de pensar na inevitável necessidade de haver relacionamento sexual para se gerar vida; as actuais ficam em pânico perante a possibilidade de alguém não ter relações sexuais ou de não conhecer todos os pormenores de todas as taras. E então, lançaram uma catequese sexual ateio-progressista toda catita para salvarem os filhos de toda a gente do infernal estado de não prazer sexual. A titi original infernizava a vida do sobrinho Raposo, e porque ele queria. As titis progressistas infernizam a vida de todos, incluindo aqueles que não querem ser seus herdeiros.
Vejamos o caso típico da titi psicóloga/psiquiatra. Caso a senhora, ou o senhor, se tenham especializado em estudos sexuais, aparecem com o título de "sexólogos" e isto basta-lhes para se considerarem médicos/psicólogos de toda a população portuguesa. Se numa sociedade sadia as pessoas procuram um "sexólogo" se assim o entenderem por causa de algum distúrbio psíquico ou fisiológico, no Portugal de hoje os sexólogos são elevados à categoria de filósofos de Ética e referências morais. Supostamente são especialistas em doenças e disfunções, mas acabam como coordenadores dos conteúdos das aulas de educação sexual escolar. Se isto não é tratar a população portuguesa como um bando de atrasos mentais, sobre os quais uns iluminados positivistas têm o dever e o direito de levar a cabo uma reconversão moral, nada o será. Chegámos a um ponto em que técnicos de áreas científicas, acham-se no direito de impor como discurso único aquilo que é ou não normal em termos comportamentais, atentando contra a epistemologia mais básica, liberdade individual, e direito dos pais a educarem os seus filhos com os valores que considerem mais apropriados. O estado vai deixar de ser laico e o fim da neutralidade começará pelo reconhecimento de uma moral oficial sobre sexualidade.
Para percebermos que moral é essa, nada melhor do que dar a palavra a uma famosa titi sexóloga,digna representante da brigada de bons costume que vos falo:
"Os miúdos deviam brincar com preservativos desde a 4.ª classe, para se habituarem a usá-los e encará-los como uma segunda pele" (...) Hoje, normal é tudo o que os parceiros envolvidos consintam"
Quando os jornalista são confrontados com alarvidades destas, ficam maravilhados. Afinal, é uma "especialista" e "doutora" quem afirma tais coisas, e não há possibilidade de as colocar em causa. Seria preciso muito atrevimento para questionar a titi, em que medida a sua licenciatura lhe dá autoridade profissional para classificar preservativos como brinquedos infantis ou condutas comportamentais como "normais", pela referência "tudo o que consintam". Com silêncios cúmplices perante coisas destas, ao longo dos anos as titis ganharam terreno e agora elas é que mandam. Não será de admirar que, mais dia menos dia, as crianças que frequentam os arraialitos do louvor à sodomia e sado-masoquismo, não sejam só os filhos e sobrinhos das titis progressistas. Não lhes será muito difícil lembrarem-se de convidar escolas a organizarem excursões e visitas de estudo a espaço tão didáctico. Uma verdadeira terra prometida, em que os pobres raposinhos guardarão para sempre tesourinhos e relíquias na memória..

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Espaço infantil do Festival "Queres casar? Casa no arraial. Com ele, com ela, com o que tu quiseres."



2 comentários:

  1. "Ontem até deve ter dado para alguns se juntarem à festa."

    haha
    Lá estás tu com insinuações!

    ResponderEliminar
  2. Quem se ofender com essa observação, é homofóbico. A festa não tinha mal nenhum...ou tinha ?

    ... este é só um pequeno apontamento para veres como é que eu me safaria em tribunal. Aprende com quem sabe. Um dia poderás precisar destes ensinamentos... ;)

    ResponderEliminar

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