O problema é que não se ficou pelas fantasias. Quando os seus interlocutores manifestavam o desejo de se encontrar com ele pessoalmente, faltava sempre. E quando, impacientes, acabavam por se afastar perseguia-os, ameaçando-os, chantageando, devassando a sua vida privada e provocando danos psicológicos e materiais, refere a acusação.
O homem, de 40 anos, professor na Universidade de Évora e na Escola Superior de Educação, a fazer um doutoramento na área da Paleontologia, foi apanhado e está agora a ser julgado, no Campus da Justiça, em Lisboa, juntamente com outros nove arguidos, agentes da PSP e da PJ e detectives privados que, segundo o despacho de acusação terão colaborado nas perseguições e nas ameaças. Ontem realizou-se uma nova audiência, a que não compareceu por se encontrar de baixa médica.
O professor de Évora é acusado dos crimes de denúncia caluniosa na forma continuada, de gravações e fotografias ilícitas, de ameaça na forma continuada, de coacção agravada na forma tentada e de perturbação da vida privada.
Por vezes, também se fazia passar por um irmão que nunca teve, de nome Francisco, este com sotaque alentejano.
Diz a acusação que “pelo menos desde 2001 até Junho de 2008” o arguido estabeleceu “contactos virtuais, através da Internet e telefonicamente com outros homens”. Nos “chats” iniciava “relações semelhantes a relações amorosas pessoais com alguns deles”, nunca revelando a sua identidade e fazendo-lhes crer que era mulher. Nalgumas das conversações telefónicas “simulava actos sexuais com os seus interlocutores, fazendo-se passar por uma mulher”.
Em regra, os homens que escolhia para estes relacionamentos virtuais “passavam por períodos conturbados e difíceis nas relações com as suas mulheres, namoradas ou companheiras ou que haviam terminado alguma relação amorosa (...)”
No escritório do advogado Emanuel Pamplona que o representa no julgamento, há notícia de outros ofendidos e de pedidos de acusações particulares. Também se sabe de vítimas que nunca se queixaram, como um oficial da PSP que acabou por se divorciar em consequência da traição com a mulher que nunca existiu.
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