Por Joseph Sciambra
Durante os mais de 10 anos que passei dentro do estilo de vida
homossexual, por duas vezes me tornei no "outro homem" dentro do
assim-chamado "casamento homossexual". Por aquela altura, e visto que o
"casamento" homossexual ainda não havia sido reconhecido nos EUA, ambas
as duplas haviam sido "casadas" em cerimónias privadas realizadas por
um clérigo prestativo. Uma das duplas encontrava-se na casa dos 40
enquanto que a outra estava na casa dos 50.
De forma geral, ambas as duplas haviam chegado a San Francisco
(provenientes de outras partes do país) durante a agitação inicial do
movimento dos direitos dos homossexuais da década 70. Naqueles dias, e
segundo o que todos eles me disseram, cada pessoa tomou o seu lugar
activo dentro do hedonismo e da promiscuidade que iria mais tarde
causar a epidemia da SIDA. De facto, um dos homens havia-se tornado
seropositivo, perdido o seu antigo parceiro, e "casado" mais tarde com
o [na altura] actual e seronegativo parceiro.
As histórias pessoais eram contorcidas e as associações eram
frequentemente complicadas; por vezes, todos eles "brincavam" juntos,
noutras vezes, "brincavam" separadamente. Ocasionalmente, a inveja
entrava em cena, mas mais frequentemente existia uma penetrante
atmosfera de depressão e ansiedade que englobava tudo e todos.
Curiosamente, nestes relacionamentos, frequentemente com os
participantes a viverem dentro de ambientes Victorianos muito bem
restaurados em redor da zona Castro, eu desejei internamente por alguns
momentos de paz doméstica.
Surpreendentemente, eu vi que eles eram tão disfuncionais como o resto
de nós, que éramos jovens e ainda tomávamos parte das discotecas, dos
balneários e dos clubes de sexo. O "casamento" homossexual não havia
mudado ninguém - apenas havia dado um bocado de consolo para os
sobre-sexuados e para os cansados.
De forma geral, como era o caso (e mais ainda depois da revolução
sexual), os homens homossexuais entram nesse estilo de vida quando se
encontram no final da adolescência, no princípio dos seus anos 20.
Durante essa fase etária, há muitas oportunidades para a pessoa se
expressar e para fazer experiências. Este poder recém-descoberto pode
ser ocasionalmente arrebatador.
Por exemplo, a dada altura tu foste o rapaz que ninguém queria na
equipa, ou o rapaz com o pai demasiado crítico e com falta de amor, ou
o rapaz assustadiço que foi tocado por alguém. De repente, tu estavas
com pessoas que, de modo geral, haviam passado pelas mesmas coisas,
embora nunca chegassem a admitir. Em vez disso, todas as pessoas agem
de modo teatral segundo o trauma pelo qual passaram durante a infância
numa cerimónia bizarra de reencenação como cura.
Agora, pode-se dançar na multidão, sentir os corpos quentes perto do
teu, e imaginar que finalmente fazes parte dum grupo; os homens mais
velhos, que querem que tu lhes chames de "pai", convidam-te para sair.
Aquele momento de vergonha e embaraço da nossa infância já não parece
tão estranho ou horripilante porque o mesmo pode ser vivido vez após
vez, e pode-se obter prazer sob aquilo que tu pensas estar a acontecer
segundo os teus próprios termos.
Quando eu estava nos meus anos 20, este cenário passou por diversas
vezes na minha vida. No entanto, as coisas foram ficando sempre mais
perigosas, mas eu acreditava que valia a pena correr os riscos como
forma de encontrar o amor. Só que, e à medida que ia vendo cada vez
mais amigos meus a morrerem de SIDA, drogas e suicídio, muitos daqueles
que se encontravam ao meu redor - pessoas a entrar na casa dos 40 ou 50
- começaram a abandonar esta vida. Tal como eu, a perigosa imprudência
de se ser jovem e homossexual começou a perder o seu fascinio, e,
então, talvez uma nova forma de felicidade se pudesse encontrar na
forma mais madura da monogamia homossexual.
À periferia do existência homossexual - no era pré-"casamento"
homossexual dos anos 90 - existiam pequenos enclaves de homens de meia
idade que haviam atravessado a perversidade de sua juventude, e
sobrevivido, só para se tornarem um poucos mais deliberados, mas de
modo incremental mais alienados da sexualidade exuberante do que é
ser-se homossexual.
Parte deste exílio auto-imposto era o resultado directo da obsessão
homossexual pela juventude e pela forma musculada da virilidade. Alguns
lutaram contra isto, recriando-se a eles mesmo (através do uso de
tratamentos com hormonas e exercício físico infindável) em "pais"
hiper-masculinos; alguns antigos twinks regressaram dentro na pornografia como tops; (twink é calão homossexual para o jovem submisso e top refere-se ao homossexual mais dominante e insertivo.)
Muitos homossexuais continuaram fora, escolhendo iniciar uma relação
com outros homens da mesma faixa etária. A SIDA frequentemente tomava
muitos amigos e amantes, e isto trazia consigo um medo que se
canalizava para um certo tipo de monogamia forçada. Mas havia uma
difusa sensação de desconforto que azedava tudo.
No ano de 1989, quase 10 anos mais tarde, eu era o intruso ou o "outro
homem" dentro dum relacionamento homossexual ("casamento"). Durante a
maior parte do tempo, eu era trazido acrimoniosamente - para "brincar"
com um ou com o outro - porque o fervor inicial e o medo que haviam
causado o relacionamento estavam lentamente a caminhar para uma apatia
conjugal e aborrecimento sexual.
Na primeira vez, os parâmetros e as fronteiras psico-sexuais foram
claramente definidas à partida; embora eu estivesse a ser aceite como
um participante erótico na relação, nenhum dos dois haveria de ficar
emocionalmente envolvido comigo. Por essa altura, sendo jovem como era,
isso era suficiente para mim; só o facto de estar perto de dois
homossexuais aparentemente bem-ajustados, e que eram aparentemente
haviam saído ilesos dos míticos anos 70, era uma pausa dos constantes
mas insignificantes encontros duma noite ou encontros nas saunas.
Talvez isso também representasse algo que era indefinível - que através
do infindável sexo eu buscava apenas uma pessoa a quem amar. Só que
esta versão pervertida de amor marital foi tudo o que eu encontrei - e
por alguns momentos, parecia real.
A segunda vez ocorreu quando eu era muito mais velhos, e a rapidamente
a ficar queimado, e chegando à idade onde eu não mais conseguiria
acompanhar fisicamente ou mentalmente o acelerado ritmo fogoso do
homossexualismo moderno. Fiquei chocado por dar por mim a ser chamado
de "pai" com a idade de 28 anos; parecia que não havia sido há muito
tempo que eu era o jovem e o impressionável em busca dos mais vividos e
dos mais experientes.
Ser chamado de "pai" fez-me sentir prematuramente velho ao lado do novo
grupo de adolescentes, mas também trouxe até mim uma entorpecente
sensação de falhanço: a felicidade que eu não havia encontrado enquanto
era um jovem núbil sob a tutelagem de homossexuais mais velhos, teria
que encontrar agora, sendo um suposto instrutor mais velho.
Não encontrei, e como tal, voltei-me para homens ainda mais velhos.
Esta nova dupla, que por essa altura estava nos seus nos 50, era um par
de antigos libertinos. Tal como todas as pessoas que haviam escapado da
foice indiscriminada da SIDA, eles encontraram alguma segurança quando
se tornaram em colegas de quarto "com benefícios".
Quando eu os encontrei, a sua vida sexual era segura, mas rotineira. Eu
fui trazido para o meio deles como forma de mudar tudo isso. Embora eu
tenha observado afeição genuína entre eles, ela era parecida à
camaradagem instantânea que liga de maneira indelével todos os
sobreviventes do horror. Esta era a característica que eu havia
testemunhado em todas as
duplas homossexuais - isto é, um laço de sofrimento inflamado pelas
suas memórias comuns da infância que havia dado errado - pais
fracassados, histórias de rapazes vítimas de bullying, e noites longas
a chorar em busca de amor.
Este era um "casamento" forjado através da experiência - experiência de
sair do armário, de sentir um orgulho inicial e uma esperança dentro do
estilo de vida homossexual, e de ser mais tarde esmagado pela realidade
do egocentrismo colectivo homossexual e da sua propensão para o sexo
sem-sentido. Eles fogem disto, e ao fazê-lo, revelam a sua inerente
disfuncionalidade.
Mas essa instabilidade apenas é miniaturizada e refinada quando ela
ocorre dentro duma relação. As coisas rapidamente se tornam ou em
pulverização catódica ou em combustível. Devido à ausência da
complementaridade entre os pólos opostos do macho e da fémea, o choque
de testosterona agita e antagoniza. A aparente felicidade harmoniosa
decai e o calor inicial entre os parceiros arrefece; eles tornam-se
co-dependentes mas sedentos duma plenitude que nunca se materializou
durante a sua união.
Tal como o mais alargado mundo do homossexualismo masculino, a sua
relação torna-se doentia; o sexo é o denominador comum, tal como o seu
controle fascista sobre aqueles que aceitam e se sujeitam à sua
dominação, e eles ficam impotentes contra a necessidade espinhosa de
extinguir o fogo inextinguível do amor não-realizado - o homem perfeito
ainda por ser encontrado.
Como o "outro homem", senti de modo instintivo este desconforto, um
armistício inquietante que acabava sempre em frustração sexual. Isto
acontecia porque a relação homossexual era uma irmandade nascida da
ansiedade e da apreensão; a realização de que o mundo homossexual gira
para fora de controle, picando de modo incessante cada grupo de
recém-chegados.
Logo, a obsessão actual pelo "casamento" homossexual não é um passo
rumo a uma versão da monogamia heterossexual transladada para a mente
dos homens homossexuais, mas uma fuga rumo à segurança, e a realização
inconsciente de que até agora, nada (descriminalização, emancipação
sexual e aceitação) funcionaram.
Eu vi isto em ambas as duplas do meu
passado, visto existir um orgulho palpável que se glorificava na sua
habilidade de aparentemente terem superado o estereótipo do homossexual
maluco por sexo, tornando-se mais políticos à medida que os anos 90 iam
passando.
Mas isso cobria a realidade da situação; que estes pactos eram formados
como uma resposta desesperada à realidade da depravação homossexual, e à
expulsão forçada de certos homens homossexuais considerados demasiado
velhos para serem desejáveis; a tendência destes homens de se
esconderem em círculos protectores; a natureza transitória de
monogamias tensas dentro destes relacionamentos, e a rápida re-invasão
da forma de pensar homossexual; a abertura dos pares homossexuais; a
firme arrogância dos homens que "já estão juntos há anos" apesar da sua
historia mútua de aventurismo sexual contínuo.
No fim, tudo isto não passa dum faz-de-conta, um último esforço para se
salvar um estilo de vida que é intrinsecamente auto-destrutivo.